Monday, February 02, 2009

Especial

Ele saía pelas ruas sozinho sem destino aparente. Gostava de perceber um certo caos que controlava todas as coisas: o semáforo mandando em todos os carros; os vendedores chamando a atenção dos pedestres para os seus produtos; os pássaros alçando voôs ligeiros por causa da pressa das pessoas...Ele gostava de observar tudo, tentando não passar nenhum detalhe desapercebido.

Ele gostava de fazer suas refeições sozinho. Apreciava a forma como as pessoas interagiam umas com as outras. A mãe cuidando dos filhos. Os irmãos brigando por um motivo fútil. Amigos jogando conversa fora. Gostava particularmente de ver os namorados trocando beijos apaixonados; discutindo o que ele imaginava ser planos para o futuro ou juras de amor eterno.

Mas, era particularmente nessas horas que ele começava a sentir uma certa inquietude, um princípio de tristeza...uma certa melancolia o abatia, e parecia que a esperança havia fugido sem deixar vestígios. Ele tentava buscar dentro de si explicacões para suas atitudes misteriosas, as quais o deixavam sempre a margem de todas essas pessoas. Parecia a ele que nunca o seu momento chegaria. Nunca deixaria de observar e seria observado ao invés.

E ele pensava em todas as coisas em que ele suspeitava ser especial, diferente. Naquilo que o distinguiria de todas as outras que ele tanto observava. Ele pensava em todas as fotos que tirava por suas andanças por esse mundo, mas não conseguia deixar de achar todas medíocres. Pensava em todas as coisas que escrevia, mas nenhuma o agradava. Pensava em todos os filmes maravilhosos que assistiu, mas se se sentia triste por ser incapaz de escrever algo semelhante. Pensava em todas as músicas que eram o seu vício saudável, e se frustrava por ter quase certeza de que esse não era um de seus talentos.

Ele sabia que se existia uma verdade incontestável nessa vida, era a de que, invariavelmente, alguém era sempre melhor de que ele.
Ele sabia sobre a outra verdade, mas ainda era cego à ela...já o haviam alertado, mas ele ainda não conseguia enxergar o especial no que há de mais banal nessa vida.

Enquanto isso, ele saía por aí, observando....

André Marçal

1 comment:

Anonymous said...

Observar é mágico, divertido, fascinante. Mas com o tempo se torna vazio de novidades, de sensações...

Para fazer parte é preciso permitir se envolver, interagir, deixar que cheguem perto, permitir o contato.. é preciso arriscar.