Wednesday, January 27, 2010

Novidades

Seu entusiasmo transparece em cada centímetro do seu sorriso largo. Você me conta tudo: do seu trabalho novo, das suas transas, das pessoas diferentes e interessantes que você anda conhecendo,  dos seus planos para o futuro, das suas novas idéias e de como tudo parace caminhar em direção à sua felicidade. Te ouvindo assim, a sensação que tenho é de que as coisas dessa vida são tão simples. Muito simples, e quem complica tudo sou eu. 

E você me pergunta sobre as minhas novidades. O que ando fazendo por aí que tanto escrevo.


Mas...eu não quero estragar esse sorriso na minha frente. Não quero te incomodar com dramas pessoais e  muito menos ainda com essas minhas velhas inadequações. Logo você, que anda pulsando vida em todos os poros do seu corpo. Quero ficar te ouvindo e sentir essa energia que vem de você.


Depois te conto. Depois...agora, só quero ouvir mais. Quero desvendar esse seu segredo. Quero saber o que você faz para que tudo dê certo. Só então, será a minha vez. As minhas novidades. 

André Marçal

Friday, January 22, 2010

Woodynho

Tá! Faz muito tempo que eu não escrevo aqui... Acho que isso não tem tanta importância já que não tenho muitos leitores. Mas já que estou de férias, isolado numa cidade do interior de São Paulo dolorosamente desinteressante e o calor não me permite qualquer outra atividade - seja física ou intelectual - um pouco mais exigente, why not writing?


Bem, então vamos lá. Já que é minha nova estréia aqui vou começar falando de cinema. Nada mais cliché para quem escreve em blogues (nada pessoal, caros blogueiros de cinema, eu mesmo adoro isso). Assisti hoje no meu computador "Hannah and Her Sisters" do Woody Allen e não consigo expressar o meu choque! É absurdamente bom! Cada diálogo, cada personagem, cada cena. E a trilha sonora! Lindíssima! Woody Allen já é querido meu faz muito tempo. Aquela neurose gritante e sincera dele me fascina! Mas o que mais gosto nele é sua autoconsciência aguda e, às vezes me pego imaginando todo o processo pelo qual ele deve ter passado para chegar nesse ponto de autocrítica serena, a qual ele não tem nem mesmo vergonha de mostrar ao mundo (ou o orgulho próprio de maquia-la). Basta ler um de seus artigos ou entrevistas concedidas a grandes jornais como NYTimes para perceber o pouco caso que o nanico faz de si mesmo, e a visão dura (sem deixar de ser irônica) que ele tem de sua própria imagem. Ao ler, você encontrar palavras como "ser visualmente insignificante", "perturbado", "feio", "superficial", "João-ninguém", "inseguro"; todas elas saídas de sua própria boca. Você ainda poderá encontrar frases em que ele admite ter ficado inseguro ao trabalhar com alguma das lindas atrizes que viraram suas musas, como Diane Keaton, Scarlet Jonhanson e assim vai; ou poderá ainda vê-lo confessar que muitas de suas cenas não foram planejadas, e na verdade ocorreram por acaso ou sorte.




Eu particularmente acho que o Woody (amigo de longa data) é, na maioria das vezes, muito duro consigo mesmo, isso para não dizer "defensivo". Na minha opinião ele tem uma fisionomia única, além de extremamente simpática e verdadeiramente impactante. Quem viu o Woody Allen uma vez, seja em foto ou ao vivo, não esquece sua pequena e desengonçada figura nunca mais. O fato de ele ser assim, pequeno, fora dos padrões de beleza semi-nazistas do mundo contemporâneo, só facilita o apreço do público por sua imagem. Claro que a isso se soma seu talento absurdo para o cinema! Basta para ver um filme dele em que ele mesmo atua (ou faça um papel importante) para entender o que estou dizendo! Em "Hannah e Suas Irmãs", ele atua no papel mais interessante e indentificável da estória, é o personagem que tira mais gargalhados dentre todos, e sem precisar de muito esforço. Não que os outros atores sejam ruins, muito pelo contrário, mas quando ELE aparece a experiência é única e inigualável. É o cara neurótico, loser, cheio de dúvidas existenciais, fraco, medíocre, azarado, feio, mas que vive com todo esse peso de realidade com aquela autoconsciência invejável que permite a autoironia. Por isso também ele é o ser humano mais inteligente e mais bem sucedido de todos na estória. É essa ironia que faz com que o público estabeleça a conexão afetiva com ele, pois todo mundo já se sentiu loser assim, mas poucos de nós losers sabemos como lidar com isso de maneira decente. Só sabemos ficar desesperados e nos afundarmos num oceâno patético de autopiedade. É essa lição que o Woody Allen nos ensina. Ele nos dá esperança ao mostrar que é bem mais sensato lidar com os problemas com humor e sarcasmo. Isso não deixa de ser um tipo de masoquismo, mas é um masoquismo que provoca riso e serenidade, não lágrimas e desespero.







Em falar em Woody Allen, tenho que dizer que adorei o livro + ou - novo de entrevistas com ele que saiu da Cosac Naif! É realmente bom! E acho emocionante uma parte do livro em que, quando perguntado se tem uma técnica exclusiva para criar seus filmes, ele responde dizendo: "Não... faço por intuição". Há! Isso ele com certeza aprendeu com o Bergman, que ele venera. E já que mencionei o Bergman, estou fazendo uma transcrição e tradução de uma palestra/aula que ele deu na AFI há um tempão atrás, e que foi gravada em Audio. Se der ainda coloco um pedação dela aqui no blog já em portuga, talvez no início da próxima semana. O Bergman é muito engraçado, aliás, ao contrário do que eu imaginava. Sempre o imaginei meio turrão, humilhando os atores e dando voadoras no cenário quando uma cena desse errado... Ele faz várias piadinhas e tem um inglês terrível, que dá até dor de ouvido! Mas ele não precisava saber inglês; isso é pra nós, reles mortais.

P. E. V.

Inverso

Te dou um abraço de despedida. Entro no carro, ligo o som e algo meio melancólico sai das caixas. Dirijo por aí sem prestar muita atenção, e quando me dou conta, já estou na garagem de casa. Entro no quarto e ligo imediatamento o ventilador. Temperatura mais alta do que de costume.

Mas não consigo dormir por causa do calor. É porquê não consigo parar de pensar em você. E fico me perguntando se você me deu um abraço, ligou o seu carro, ouviu uma música alegre, dirigiu sem dificuldades, chegou em casa, deitou na sua cama, não pensou em mim e foi dormir sem problemas.

Provavelmente, sim.

André Marçal

Tuesday, January 19, 2010

Visita

Você vem pra minha cidade, assim, como quem não quer nada. Me fala que quer ver coisas diferentes, sentir uma outra brisa no rosto, assistir o vai-e-vem de carros e pessoas desconhecidas. Mas, eu sei muito bem a razão da visita. Tento disfarçar tudo no longo papo, entre cafés gelados e crepes deliciosos. Percebo o seu olhar estudando todo o meu rosto, os meus gestos. Dava pra quase ver o seu raciocínio trabalhando em análises das mais profundas sobre todas as coisas que eu dizia.

Você veio por minha causa.

Logo eu...E você com todas essas expectativas sobre mim, sobre o que eu poderia fazer. Você achou que eu seria uma alegria em coisas sem graça. Um norte em caminhos perdidos. Uma esperança quando tudo parecia um tanto sem sentido.

Mas, a grande verdade é que eu mesmo nem sei por quais caminhos eu ando. Muito menos ainda saberia dar direções. Muitas vezes, tenho dificuldade em encontar sentido e diversão em coisas das mais mundanas.

Foi tudo precaução. Isso porque se apaixonar por mim é algo perigoso. Não queria te arrastar em algo que não traria nada do que você esperava. Sentido de preservação.

Queria que você tivesse conseguido compreender. Sou pessoa de sutilezas. O grande problema é que generalizo, e penso que todos são dessa mesma forma. E espero que alguém mais capacitado do que eu possa te guiar por caminhos que você sempre quis seguir. E que de preferência sejam na sua cidade, só pra te poupar todo o trabalho de visitas.

André Marçal





Tuesday, January 12, 2010

Violão


Ele pegava o violão e ensaiava uns acordes. Músicas dos outros não o interessavam muito. Nem as dos seus ídolos e muito menos as da moda.

O que ele queria era poder tocas as suas próprias. Queria que a música fosse sua língua. Os versos, a sua voz. A melodia, os seus sentimentos.

Mas...isso o frustrava. Ele não sabia tocar muito bem. Ficava sempre impressionado como os grandes compositores conseguiam expressar exatamente aquilo que ele sentia. Como se ele mesmo houvesse escrito aquelas linhas, e dedilhado aquelas notas musicais.

E o que ele mais desejava era exatamente isso. Que sua revolta virasse uma música de protesto. Que sua visão de mundo se transformasse em hino. Tristeza, em melodias tristes. E que sua canção de amor fosse declaração de amor. Que tudo se transformasse música. Sempre.

André Marçal

Thursday, January 07, 2010

Diálogos

Você me pergunta por que nunca encontro alguém; por que essa insistência em uma liberdade que não me traz nada além de sofrimento.
Te falo sobre esse meu desassossego; essa vontade de querer fazer mil coisas ao mesmo tempo...se amor é caminho para a felicidade ou justamente o contrário.
Você me responde que tudo isso não passa de desculpas. Que eu sou um tanto narcisista, muito satisfeito comigo mesmo. E que não tenho alguém porque acho que ninguém jamais vai ser suficientemente bom pra mim.

Fico pensando por mais de um ano, e não consigo encontrar uma tréplica pra isso.

Friday, January 01, 2010

Discurso

Te contava sobre as coisas da vida. Falava como as pessoas vão e vem, mas apenas algumas ficam na nossa memória. E no meio de uma frase importante, você me intorrompe, apertando o meu nariz. Acho tudo muito estranho, mas você me pede desculpas, dizendo que não resistiu.
Continuo meu raciocínio. É importante que eu termine. Você finge interesse, me dando um sorriso malicioso. De repente, você põe a sua mão no meu rosto. Até tento terminar o que eu tentava dizer há mais de dez minutos...mas aí nossas bocas já estavam ocupadas.

Nem ligo. Não aguentava mais os meus discursos mesmo.


André Marçal