Tuesday, January 19, 2010

Visita

Você vem pra minha cidade, assim, como quem não quer nada. Me fala que quer ver coisas diferentes, sentir uma outra brisa no rosto, assistir o vai-e-vem de carros e pessoas desconhecidas. Mas, eu sei muito bem a razão da visita. Tento disfarçar tudo no longo papo, entre cafés gelados e crepes deliciosos. Percebo o seu olhar estudando todo o meu rosto, os meus gestos. Dava pra quase ver o seu raciocínio trabalhando em análises das mais profundas sobre todas as coisas que eu dizia.

Você veio por minha causa.

Logo eu...E você com todas essas expectativas sobre mim, sobre o que eu poderia fazer. Você achou que eu seria uma alegria em coisas sem graça. Um norte em caminhos perdidos. Uma esperança quando tudo parecia um tanto sem sentido.

Mas, a grande verdade é que eu mesmo nem sei por quais caminhos eu ando. Muito menos ainda saberia dar direções. Muitas vezes, tenho dificuldade em encontar sentido e diversão em coisas das mais mundanas.

Foi tudo precaução. Isso porque se apaixonar por mim é algo perigoso. Não queria te arrastar em algo que não traria nada do que você esperava. Sentido de preservação.

Queria que você tivesse conseguido compreender. Sou pessoa de sutilezas. O grande problema é que generalizo, e penso que todos são dessa mesma forma. E espero que alguém mais capacitado do que eu possa te guiar por caminhos que você sempre quis seguir. E que de preferência sejam na sua cidade, só pra te poupar todo o trabalho de visitas.

André Marçal





1 comment:

Unknown said...

Ja pensou que td aquilo que pensa ver no outro não passa de um reflexo de si mesmo. Preocupação, proteção.. não, o termo certo seria medo. Medo de que fosse bom, medo de que fosse ruim, medo de se envolver, medo de descobrir algo diferente, medo de se abrir, MEDO.

As vezes alguns momentos da nossa vida são apenas isso momentos. Podem ser bons ou ruins, mas são isso momentos que nos fazem sorri ou chorar qdo lembramos. Nada mais complexo que isso.

Presumir o que o outro espera, deseja, sente, quer é perigoso e nem sempre encontra a verdade.