Monday, December 29, 2008

Porta Trancada


Você me fez pensar em coisas que eu nunca pensei. Você me fez sentir coisas que jamais imaginei poder sentir. Eu estava fechado a tudo isso, mas de alguma forma você conseguiu destrancar a porta. E foi por esse motivo que me peguei, de repente, pensando em você o dia todo. Querendo te conhecer mais a cada nova conversa. Descobrir novas facetas de sua personalidade tão iluminada.

Ainda soa estranho, muito estranho. Mas da estranheza boa. O futuro a ninguém pertence. Pode ser que eu tenha confundido tudo. Pode ser que nada seja correspondido. Talvez um amizade seja tudo o que eu necessite. Carência emocional sempre foi meu ponto fraco.

Mas, de uma forma ou de outra, me surpreendo duplamente toda vez que penso em você: por ter despertado esse mosntro há muito adormecido; e por ser justamente você, de todas as pessoas. Não sei do que gosto mais: de você ou do enamoramento por meu estado. Só espero que dure. Só espero que não vá embora logo...

André Marçal

Wednesday, December 17, 2008

Simplicidade


São coisas pequenas, quase insignificantes, mas em uma vida em que o marasmo parece se arrastar como uma cobra traiçoeira, se revelam da maior importância. Tudo o que parece restar é se agarrar nelas...afinal de contas, o que mais se pode fazer?

É assim mesmo, talvez. As pessoas sempre esperam as coisas mais extraordinárias de suas vidas, mas o que de fato ocorre é bem diferente. Talvez realmente exista beleza nas coisas mais simples. Amelie Poulain deve ter razão.


É uma cantada sincera de alguém na rua; é um elogio do seu chefe; uma nota boa em uma prova ou trabalho; um bilhetinho da pessoa amada ou amigo do peito....uma medalha simbolizando o reconhecimento que você tanto procura.

São todos esses momentos em que você tenta se segurar. Na simplicidade mais pura da vida. É essa a sensação que você não deixa embora...é o seu combustível. E você invoca esse sentimento de volta sempre quando tudo parece sem esperança demais só para te lembrar que, às vezes, tudo o que você busca está bem ali na sua frente.

André Marçal

Wednesday, December 03, 2008

Beleza

Diziam que ele era bonito. Gostavam da cor do seu cabelo e do formato do nariz. Demorou um pouco até ele começar a acreditar nos elogios. Ao se olhar no espelho, hoje, ele consegue ver uma certa beleza aqui e ali. Não como o enxergam de fato, mas pelo menos ele tem consciência do limite de sua beleza.

E ele era admirado por ser jovem, bonito e inteligente. Para alguns, a combinação perfeita. Outros se perguntavam: o que mais alguém poderia desejar da vida? Os mais velhos, saudosos de suas épocas (e arrependidos pelo o que não fizeram), sempre lhe davam conselhos. Diziam a ele que deveria aproveitar mais, sair mais, namorar mais, ter mais amigos. Pois tudo passa depressa demais. O tempo é sorrateiro. As pessoas da idade dele ficavam intrigados. Não entendiam a razão pela qual ele era tão inquieto. Não sabiam identificar o que ele tanto buscava. Logo ele, que tinha naturalmente o que todos queriam.

Mas, ninguém...ninguém sabia que beleza não é nada. Só ele. Ele tinha noção exata de que a beleza nunca o ajudou em muita coisa. Não ajudava a ganhar um centavo a mais; A ter um emprego melhor; A ter mais ou menos amigos; A encontrar amor verdadeiro...a ter paz de espírito. Ser bonito nunca o livrou de sentimentos absolutamente humanos; Nunca o livrou de inseguranças; Jamais o deixou livre de questionamentos. Ser bonito nunca foi passaporte para a felicidade e nem viagem só de ida a um êxtase infinito.

O que ele realmente sabia é que beleza é efêmera. Daqui a alguns anos acaba. E tudo o que fica é a saudade de um tempo em que as possibilidades pareciam infinitas.
E o que as pessoas não sabiam é que ele trocaria toda a sua beleza por pelo menos um dia em que possibilidades se transformassem na mais pura e deliciosa realidade.


André Marçal


Sunday, November 23, 2008

Nossas Fases


Acordei hoje de maneira diferente. Não foi pelas obrigações do dia, nem pelo despertador-celular. Não, hoje eu acordei vivo! Livre não só do profundo sono da noite, livre não só de sonhos-minuto, daqueles que duram o minuto necessário para que seja apagado pela memória quando se abrem os olhos e que de repente, sabe-se que sonhou, mas não o quê. Você deve estar se perguntando o que tem de tão raro nisso. Você deve estar me olhando com desdém. Mas você não sabe o que é ser vulnerável ao próprio espírito. Você não sabe o que é estar aprisionado dentro da própria alma e durante anos mal conseguir falar. Estive por tanto tempo concentrado no fundo de mim! É tão difícil, para alguém que vive no próprio estômago, digerir as turbulências do mundo!


Tenho que contar essa história. Passei anos sortido na timidez e podado por navalhas invisíveis. Travei batalhas contra os meus desejos em nome de minha própria reputação. E cego de mim mesmo (não vi meu reflexo no espelho), passei a me alimentar da visão dos outros sobre mim. E como resultado sombrio da equivocada refeição, passei eras sob o domínio de doutrinas macabras desse Deus de duas caras chamado "amor". Sob seu comando me despi e me embriaguei de corpo, até a última gota. E então, sedento e incompleto, tentei buscar mais e mais no fundo do poço. Porém, lá em baixo, só encontrei uma velha senhora chamada "ironia". Ela também tinha duas caras, uma delas era bem triste e a outra alegre. Mas ao que parecia elas gritavam a mesma palavra, de joelhos, como que suplicando: Verdade! Foi então que, cansado, decepcionado e confuso, dentei me machucar e acabar com tudo! Bati a minha cabeça contra as duas daquela pobre senhora, tudo de uma vez! E fez um eco. O eco espiritual que perdurou por todas as manhãs! Desde então só consegui acordar pelo eco, sonolento e abafado, que sugeria que um dia no passado eu havia vivido, e que agora, estar dormindo ou acordado, para mim, não fazia a menor diferença. Desde então só consegui acordar quando ficava com sono e tentava ir dormir.


Mas você poderia erguer a cabeça e me dizer que com você é diferente, que sonha todos os dias e lembra de todos os sonhos nos mínimos detalhes, e que além disso, tem o hálito das mais perfumosas rosas quando acorda e, ainda, que sua disposição matinal emerge como um foguete ao surgimento do primeiro raio de sol do dia. Você poderia dizer ainda que com o primeiro raio de sol a atravessar a cortina do quarto, toda a sua vida ganha sentido, e que você fica tão cheio de sentido e de vida que nem sequer os nota. Já basta para você, simplesmente acordar cantando e bombardeando o mundo com impressões rápidas e atenções certeiras. Porque para você não existe o silêncio da vulnerabilidade de ser. Você procura agir pelas bordas do seu corpo, dançar na direção do vento, gritar com força contra a maré sem necessidade, como se quisesse testar as forças da natureza; você pode fazer amor com a negligência ao futuro. Você sabe que não sabe e que é melhor assim. Você sabe que o conhecimento só é bom se puder ter forma, e que a forma só se torna agradável com a nostalgia. Como deve ser bom ser você e não querer ser outro alguém. Como deve ser bom ressoar de maneira diferente a cada dia que se passa. Mas hoje, hoje, eu sou você. E você?

Paulo E. Vasconcellos

Friday, November 07, 2008

Caminhos separados


É aquela energia que vem de algum lugar misterioso. E te dá aquela vontade de todo o tipo: de bater aquele papo descontraído; sair em plena terça feira à noite; ir ao cinema pelo menos duas vezes na semana; ir ao novo lugar badalado da cidade; discutir profundamente assuntos diversos; tomar sorvete em uma tarde de calor; ir a um show de uma banda que você gosta; caminhar por um parque bonito sem hora de ir embora; beijo demorado; pegar o carro e viajar para um estado do país nunca visitado; nadar na piscina de um clube; mar e areia!; jogar voleibol uma manhã inteira; ler um bom livro em uma tarde preguiçosa; assistir ao filme favorito mais uma vez; ouvir música no volume máximo; conhecer pessoas novas...enfim, viver.

Energia da vida. E tudo parece ser tão bom e diferente nesses dias. É como estar apaixonado. Tudo tem mais cor. Nada parece ser entediante, inclusive as coisas mais mundanas. E você quer compartilhar tudo isso com alguém, com o mundo. É a paixão pela vida.

Mas...as pessoas parecem estar em outros trilhos. Estão em caminhos diferentes do seu. Uns imersos em problemas que você não pode resolver. Insatisfações que você não pode satisfazer. Outros simplesmente em fases que você ainda não alcançou. Você não sabe o que fazer. Só sabe que a paixão pela vida não pode ser a de carnaval. Tem que durar mais, muito mais.


André Marçal.




Sunday, October 26, 2008

Lemon Tree

Ouvi essa música ontem pela milésima vez e percebi: A felicidade é um minuto que termina antes do tempo.


When I was just a lad of ten, my father said to me,
Come here and learn a lesson from the lovely lemon tree.
Don't put your faith in love, my boy, my father said to me,
I fear you'll find that love is like the lovely lemon tree.

Lemon tree very pretty and the lemon flower is sweet
But the fruit of the poor lemon is impossible to eat.
Lemon tree very pretty and the lemon flower is sweet
But the fruit of the poor lemon is impossible to eat.

Beneath the lemon tree one day, my love and I did a lie
A girl so sweet that when she smiled the sun rose in the sky.
We passed that summer lost in love beneath the lemon tree
The music of her laughter hid my father's words from me:

Lemon tree very pretty and the lemon flower is sweet
But the fruit of the poor lemon is impossible to eat.
Lemon tree very pretty and the lemon flower is sweet
But the fruit of the poor lemon is impossible to eat.

One day she left without a word. she took away the sun.
And in the dark she left behind, I knew what she had done.
She'd left me for another, it's a common tale but true.
A sadder man but wiser now I sing these words to you:

Lemon tree very pretty and the lemon flower is sweet
But the fruit of the poor lemon is impossible to eat.
Lemon tree very pretty and the lemon flower is sweet
But the fruit of the poor lemon is impossible to eat.

Paulo E. Vasconcellos

Sunday, September 21, 2008

Minha Loucura

"A razão de um único homem contra a razão de todos os outros já não é mais razão e sim loucura"

Era uma tarde típica da capital paulista, no calor insuportável de uma biblioteca pública sem ar condicionado (GOD!), eu estudava um texto de Otto Maria Carpeaux (quem?) sobre William Blake e acabei esbarrando com essa frase maravilhosa! Não pude deixar de esboçar um sorriso automático de profunda felicidade por uma concepção que na verdade já é tão exaustivamente explorada. Mas eu precisava daquelas palavras, da repetição das minhas certezas e dos meus princípios de garoto "out of place" e ficar meia hora refletindo, até me esqueci do meu costumeiro café das 15:40. Fiquei pensando no quanto eu poderia já ter aproveitado da minha "insanidade", dos meus devaneios e das minhas particularidades (grotescas e absurdas) como indivíduo! Mas o que eu mais fiz até agora foi ficar sofrendo por sobre elas, fui me deixar dominar por uma culpa de não ser um "bom cristão", por não conseguir ser minimamente "normal" pra ter uma vida adequada em sociedade. Apesar de ter passado em todos os exames psicotécnicos burocráticos da vida como, tocar um instrumento musical mediocremente; entrar numa faculdade pública; ter pelo menos três amigos por ano; conseguir razoavelmente lidar com um apartamento numa cidade como São Paulo (não sem ajuda), apesar dessas coisas básicas do dia a dia eu simplesmente sou completamente desvairado para a maioria das outras necessidades básicas de um cidadão do mundo moderno. E digo em todos os sentidos!

E olha que eu já tentei! Já tentei encontrar um emprego que se adequasse minimamente à minha situação socio-intelectual esperada, e já tentei permanecer num deles pelo menos o suficiente pra receber um salário decente. Mas a verdade é que eu sou uma mula pra qualquer atividade que peça o mínimo de praticidade e racionalidade instantânea, não sei mais a tabuada (estudantes de Letras!), nem conheço como deveria o mundo das finanças e dos impostos! Atendo o telefone e , apesar de o assunto do meu interlocutor ser extremamente sério não posso deixar de pensar em qualquer outra coisa menos no que ele está falando. Justo eu que sempre me achei tão apto para tudo isso! Mas a verdade é que sempre estive de lado! Sozinho com meus livros e minhas fantasias, e pior, através delas acreditei estar vivendo. Mas crescer é bem diferente! Crescer requer o toque! Requer ter na pele e na memória a verdade concreta das situações, e quando eu me deparo com elas, no susto e na ansiedade de quem desconhece o caminho e não tem um guia orientador, faço tudo atrapalhado, do meu jeito maluco! A minha convivência com esse novo mundo a ser explorado acaba se tornando muito única, diferente do que é para os outros, com meus próprios vícios e neuroses. Meu passado, minhas próprias experiências me tornaram o que eu sou, mesmo que estranho, diferente, inadequado, mas é a minha razão, a minha loucura! Vou começar a retirar dela o que pode me fortalecer, me destacar no mundo, sem medo de parecer ridículo.

Isso me lembra a teoria da Sylvia Plath de que "todos nós vamos morrer". Parece até um daqueles ditados populares que você ouve dos avós ou da vizinha e que, apesar de simples, parecem armazenar séculos de sabedoria real! Sempre esqueço disso, mas quando eu me lembro, percebo que há uma catarse profunda nessas palavras: "Dying is an art!". De súbito, mas só de súbito, ser "ridículo" é uma questão de vida!

Paulo E. Vasconcellos

Tuesday, August 19, 2008

Sumiço


A situação se repete com uma frequência um tanto assustadora.
Na rua; no shopping; em reuniões de família; no msn; orkut e em festas, a primeira coisa que dizem é que você está sumido.

E não existe nenhuma razão totalmente compreensível. Ou satisfatoriamente convincente.

Talvez seja esse receio de se conectar realmente com outra pessoa, apesar de você sentir essa necessidade mais forte do que nunca. Nunca se sabe as consequências disso. Ou pior ainda, a perda disso. E se você perder o controle? Sentir - se sem chão. Logo você, que nunca se permitiu o caos, a bagunça de sentimentos. As coisas sempre foram tão claras quanto preto e branco. Não é hora de tudo colorido.

É sempre essa ambivalência...caos ou o cosmos?

Talvez seja a auto - suficiência, essa coisa meio milagre e maldiçao ao mesmo tempo, em níveis completamente confusos. Às vezes, pessoas parecem tão interessantes em conversas de bar, em desabafos, em historias de vida. Mas, por tantas e tantas outras, não valem mais do que um bom filme, uma folheada em um livro interessante, ou uma música triste.

Ou talvez.....talvez seja condição de vida, a forma como você aprendeu a viver, a reagir diante tudo. Por mais que te cause repugnância, a idéia de que talvez você goste de ser assim não soa tão absurda.

Mas você sabe que ainda é cedo para afirmar isso. A juventude ainda não foi embora. A estrada é ainda longa.

E tudo o que você pode responder aos que te chamam de "sumido" é que, mesmo sendo verdadeiro, você sempre se pega pensando em todos os seus amigos, todos os dias, e em todas as pessoas especiais que cruzaram o seu caminho. E você se pergunta como estão, o que andam fazendo. E, por um instante que vale por uma vida inteira, se sente realmente abençoado e feliz por ter tido a oportunidade de ter conhecido todos eles: os sumidos e os presentes.


André Marçal

Thursday, August 07, 2008

Reencontro


Às vezes, o desejo é tão forte que parece até real. Imagino o nosso reencontro com todos os detalhes imagináveis. Seria em um local público. Um shopping, talvez. Aleatoriamente, em uma livraria, nos esbarraríamos. Já fiz o absurdo de imaginar até mesmo sua aparência física, quatro anos depois: a mesma altura que me impressionou na primeira vez que te vi; os mesmos cabelos lisos e negros; a beleza completamente natural do seu rosto, sem ajuda alguma de maquiagem ou algo do tipo. Eu te abraçaria, enquanto você ficaria na dúvida se faria ou não. Você provavelmente ficaria um pouco desconfortável, constrangida até, porque a primeira coisa que você se lembraria é da carta que te mandei. E que você não respondeu. Você me perguntaria se ando trabalhando na área que me formei. Eu responderia que não, mas que estava feliz na minha atual profissão. Te falaria de minhas viagens e planos de morar fora, e você ficaria feliz porque sempre soube que isso é algo que sempre quis fazer. E lá no fundo, você talvez começasse a pensar que eu, realmente, tenha mudado e amadurecido. E voce ficaria realizada. Me perguntaria, então, se eu estaria com alguém. Com a minha negativa, diria que qualquer pessoa com quem eu estivesse seria feliz. E você diria que eu era especial, mas nunca havia me dito antes porque não podia. Eu iria só olhar para você, sem palavras. Finalmente, num súbito de coragem, te pediria, se fosse possível, que nos encontrássemos outro dia para tomar um café e conversar mais. Diria que sempre quis saber mais sobre você, mas nunca tinha tido a oportunidade. Você, claro, hesitaria, e eu iria perceber. Talvez seu namorado (quem sabe, agora, marido) não fosse gostar da idéia. Mas, você aceitaria. Não com tanta convicção, mas ainda assim disposta a ir. E eu ficaria na expectativa quase torturante de que, talvez, por alguns momentos, você tenha sentido alguma coisa a mais por mim; que, talvez, pensasse em mim à noite (como eu costumava fazer), e que fantasiasse comigo (afinal, tínhamos tanta coisa em comum). Trocariámos telefones. Então, eu mencionaria a carta. Diria que queria conversar sobre ela. Nesse momento, eu poderia ficar até um pouco amargo. Ressentido, talvez. Você iria começar a tentar se justificar, mas sem sucesso. Para amenizar, diria que ficou emocionada de verdade quando a recebeu. Eu complementaria dizendo que sua colega havia me dito, realmente, que você chorou. E de novo, eu só te olharia. Você tentaria fugir do meu olhar dizendo que poderíamos encontrar no próximo sábado. Eu concordaria. Você iria se despedir com um abraço de verdade agora. Eu iria retrebuir. E esperaria ansioso o próximo final de semana.


Mas as coisas têm a tendência de nunca acontecerem como você planeja. Se te encontrasse por aí, provavelmente trocariámos no máximo cumprimentos de longe. Eu te perguntaria se ainda trabalhava no mesmo local, e ficaria paralizado e disfuncional demais para perguntar qualquer outra coisa. É por isso que tenho essa ambivalência em te rever. Talvez você não goste tanto da minha aparência hoje. Logo agora, eu tão fora de forma. Talvez você não aprove o que eu esteja fazendo com a minha vida. Você enxergava tanto potencial em mim. E talvez eu descobrisse que você me considerava, realmente, apenas um garoto. Garoto com cabeça de homem, mas ainda assim, um garoto. E seria vergonhoso demais. A primeira pessoa a quem me declaro...não, não.

E você iria embora. Sem carta. Sem telefone. Sem encontro. Sem futuro algum....Apenas aquela vontade de ter feito tudo diferente. E a dúvida se, algum dia, você terá coragem suficiente de fazer diferente.

André Marçal

Tuesday, June 17, 2008

Espelhos.



É essa sensação de que nunca é o suficiente...
Se converso com alguém, dizem que não conversei o bastante. Falam que sempre me mostro distante, mesmo se compartilho intimidades. Jamais é o suficiente. Querem sempre mais e mais. Querem o mais sórdido detalhe. A coisa mais embaraçosa que você fez. Quem você usou para se satisfazer. Talvez seja isso. Querem provar o quão canalha você é, ou vai ser no futuro. Depois disso, finalmente cria - se intimidade. Mas isso é realmente o que chamam de se conectar com alguém?

Se trabalho com algo do mais honesto, jamais é o certo para mim. Dizem sempre que posso muito mais. Que jogo fora o potencial que existe em mim. Me imaginam em situações de destaque que nem em sonhos dos mais megalomaníacos sonhei. Enxergam um uma inteligência, desenvoltura e ambição que sei que não possuo nem a metade.
É essa sensação de que o que faço nunca é o suficiente...

Talvez eu seja distante. Talvez peguiçoso. Talvez eu goste da forma como eu construi meu mundo. Talvez seja verdade que pessoas são como espelhos: enxergamos o que elas nos dizem.
Mas, sei tambem que espelhos podem se embaçar com facilidade.


André Marçal

Tuesday, May 27, 2008

Esquerda ou direita?


Pego o violão, toco alguns acordes tristes e me vejo em um palco, encarando milhares de pessoas emocionadas com a música que sai de mim. E acho que quero ser músico.

Escrevo alguns rascunhos no papel; ensaio alguma coisa nesse blog; tenho idéias mirabolantes dentro do ônibus, e chego a conclusão que o melhor é ser escritor. Afinal, há tanto ainda a se contar.

Assisto meus filmes preferidos pela enésima vez; revejo as atuações de atores e atrizes que admiro muito, e resolvo que o melhor é atuar. Expressar raiva e alegria através de um papel pode ser muito saudável. E reconhecimento é sempre bem vindo. Entretanto...muito mais divertido seria dirigir o elenco e todas as cenas. E ser diretor de cinema é a minha nova profissão. Até o momento em que eu percebo que muito mais tesão seria escrever toda a estória e personagens. Brincar de Deus por alguns momentos. E roteirista é o trabalho definitivo.

Mas...isso tudo soa muito trabalhoso e cansativo. E, além do mais, sempre existe a dúvida se realmente existe talento suficiente para realizar todas essas coisas. Está decidido: de agora em diante, vou ter uma vida normal. Um emprego comum de oito horas diárias. Voltar para casa, assitir TV e filmes no DVD. Casar e criar uma família. Nada muito impressionante, a não ser a tranquilidade de não ter que ser extraordinário todos os dias. É isso. Pronto. Vou dormir melhor essa noite.

Mas, amanhece o dia...e o que eu quero ser mesmo?


André Marcal

Tuesday, May 13, 2008

Viajar é viver


É pra ver o mundo ficando pequenininho da janela do avião; É sair correndo com a passagem na mão pra pegar o próximo avião (cena que você já viu dez mil vezes nos filmes); É tentar se sentir à vontade em uma casa que não é sua, mas vai ser por um mês; É dar voltas e mais voltas em um metrô estrangeiro; É pegar ônibus que você não tem a menor noção para onde vai; É se forçar ao máximo para pedir informações; É se forçar ainda mais (a níveis torturantes!) para puxar conversa com outros; É andar sem rumo em uma cidade desconhecida; É ficar horas admirando a natureza e beleza de parques maravilhosos; É observar hábitos e costumes de outras culturas.

É entrar no bonde que te leva ao metrô e ouvir pelo menos cinco línguas diferentes; É receber de presente um DVD - documentário sobre a "verdade" do 11 de Setembro de um motorista filipino; É conversar sobre Bob Marley com um autêntico jamaicano sentado ao seu lado no banco; É receber proposta de casamento de um tiozão de cinquenta anos, feita no ponto de ônibus; É ver como emos de verdade se vestem; É ir a pubs iguais aos dos filmes ingleses; É andar por ruas lotadas com copo de café na mão; É se viciar em café; É ser roubado em pleno país de primeiro mundo; É dar inveja à todas adolescentes por ter ficado a centímetros de distância do ídolo - galã delas; É assistir filme 3D no IMAX!; É ficar horas incontáveis em livrarias de três andares (e sem vendedores pentelhando).

É se ver, de repente, como o centro da atenção de asiáticos; É ser o alvo da obsessão / loucura de um húngaro,
stars wars maníaco, vestido de suspensórios e all star azul ; É ficar horas conversando dentro de um Café sem tomar nenhum; É assistir filmes e documentários maravilhosos em plena escola; É descobrir que você é querido e elogiado mesmo estando em outro país; É descobrir que pessoas vão ser sempre pessoas, não importa o lugar do mundo; É descobrir um novo hobby: fotografia; É descobrir que você possui características que jamais pensou possuir; É amadurecer; É se sentir confortável em momentos de solidão; É olhar fotos, quase um ano depois, e ter a sensação de que tudo aconteceu em uma realidade paralela.
É, enfim, se sentir vivo.

É pra tudo isso que viajar é preciso.





André Marçal

Sunday, April 13, 2008

Para: Alguém


Eu penso em você. Pensava com mais frequência. Mas, ainda me pego pensando em você no trânsito; no almoço; ouvindo música, dentro do ônibus; no trabalho... Eu ficava imaginando nós dois de mãos dadas pelos corredores dos shoppings, olhando vitrines. Porque a vida é feita de coisas pequenas assim: passar o tempo fazendo coisas insignificantes com quem voce gosta ao lado. Imaginava nós dois no cinema, rindo ou sofrendo com os personagens. Ou então decidindo com qual deles éramos mais parecidos. Imaginava a gente ouvindo uma música bonita dentro do carro, daquelas de cortar o coração. Ou então, daquelas que te dá vontade de sair pulando por todos os lados, com o som no último volume. Porque eu sei que você é assim: inteligente, com bom gosto e bonita. E foi essa combinação que me fez ficar pensando em você.
E eu ia à sua casa, sempre com alguma desculpa. Mas, na verdade, queria ver você, nem que fosse de relance. Às vezes, falava com você. Às vezes, não. E esse tipo de atitude deve ter te confundido e dado uma impressão errada sobre mim. Mas, eu não consegui evitar. Juro. É difícil uma pessoa que me deixa completamente sem palavras e reação. Logo eu, que me julgava tão seguro de mim. Logo eu, que achava que me conhecia tão bem! Você tem que entender que quando você conhece uma pessoa assim, você não pode prever suas reações. Talvez você tenha pensado que nunca gostei de você; que eu tenha te achado esnobe ou qualquer outra coisa do gênero. Talvez você ainda pense até hoje. E eu poderia desmentir isso a qualquer momento. Mas nunca fiz. É triste como tudo nessa vida parece ser um grande mal - entendido.
Mas, se por algum momento você me percebeu. Se por algum motivo notou que eu sempre pensava em você (mulheres sempre notam essas coisas mesmo...), e, ainda assim, nunca fiz nada...bom, não posso pedir paciência. Eu sei. Talvez um pouco de compreensão. Sabe, todo mundo acha que amor deve ser usado para te completar, para suprir algo que você não tem. Mas, eu acho isso perigoso. E sou muito cauteloso. Um dos meus piores defeitos, eu sei. E eu ainda tenho tantas coisas pra consertar em mim. Tanto ainda a ser definido, que não quero arrastar ninguém comigo nessa jornada. E você poderia se apaixonar por mim no meio de tudo isso. E, acredite, sou a pior pessoa para se apaixonar.

Foi tudo pra te preservar. Você pode falar que sou um medroso. Que gosto de ficar na minha ilha, seguro de tudo. E talvez seja verdade. Mas, tenha certeza que sei que, um dia, a ilha pode ser engolida pelo mar. Eu sei que um dia ela vai sumir. Mas, o que eu posso fazer até lá?
Pensar em voce.

André Marçal

Tuesday, January 29, 2008

A Caixa


A idéia original era muito simples: pegar uma caixa que foi parte de um presente e usá-la para colocar todas as cartas, cartões-postais, fotos e mensagens que diferentes pessoas escreveram para mim em momentos diversos da vida. Demonstrações de sentimentos na forma escrita. Isso sim, para mim, é o maior tipo de presente que se possa receber. Algumas pessoas preferem carros, o celular da última geração, Ipod, brinco de diamantes, etc. Eu prefiro saber o que voce representa para a pessoa que está te presenteando.

Seria uma espécie de tesouro pessoal, o mais valioso. No final da vida, não importa tanto a casa de dois andares no bairro de luxo que voce conseguiu comprar, e nem mesmo a quantidade de dinheiro que você deixou para os seus filhos. Mas, sim qual tipo de relação você conseguiu com as pessoas. O que de mais pessoal você implantou em outros indivíduos. Que tipo de pensamento é provocado quando outros pensam em voce. Bens materiais, com muito esforço, voce pode ter. Bens pessoais, às vezes, não. E essa última, pelo menos para mim, é muito mais indício que uma pessoa foi bem suscedida em vida do que a última.

Eu tenho essa fantasia (entre tantas outras) que, se algum dia eu for famoso, seria muito fácil se um escritor quisesse escrever minha biografia. Era so encontrar essa caixa perdida em meu guarda-roupa agora empoeirado e moribundo. Com isso em mente, fui relendo e colocando as cartas, fotografias e cartões...

E quem precisa de máquinas do tempo para voltar ao passado? Só é preciso de cartas e voce pode reviver estórias, sentir aquela inocência de volta, um pouco de nostalgia, arrependimento, saudades e frustração. Você percebe que a pessoa que você queria ser quando adolescente é bem diferente da que você é hoje. Que alguns aspectos são bem melhores, e que em outros você ainda precisa melhor. E outros...bem...não mudaram em absolutamente nada.

E a caixa, de repente, foi se enchendo e enchendo. De tal forma, que nada mais cabia, e ela não se fechava.
Uma nova caixa, maior, é necessária.

E em uma noite longa, tediosa e solitária de Sábado, em que seu celular não toca e você se vê sem perspectiva alguma, ter uma caixa cheia até a boca de pessoas na sua vida te faz sentir menos sozinho e mais vivo do que nunca.

André Marçal

Saturday, January 05, 2008

A Verdade


Sou uma verdade, desgraça diante do mundo.

Algo que não se quer e que não é querido.

Porque o que se quer é uma idéia.

Uma torre fálica colorida cuidadosamente construída;

e eu, eu sou só essa verdade inaceitável,

O escuro e imundo túnel da consciência.

A esplendorosa luz da criação.

ps: "Árvore da Esperança, mantenha-se firme" é o que está escrito no pergaminho que ela segura e Árvore da esperança é o nome da obra.



Paulo Eduardo Vasconcellos