Thursday, August 07, 2008

Reencontro


Às vezes, o desejo é tão forte que parece até real. Imagino o nosso reencontro com todos os detalhes imagináveis. Seria em um local público. Um shopping, talvez. Aleatoriamente, em uma livraria, nos esbarraríamos. Já fiz o absurdo de imaginar até mesmo sua aparência física, quatro anos depois: a mesma altura que me impressionou na primeira vez que te vi; os mesmos cabelos lisos e negros; a beleza completamente natural do seu rosto, sem ajuda alguma de maquiagem ou algo do tipo. Eu te abraçaria, enquanto você ficaria na dúvida se faria ou não. Você provavelmente ficaria um pouco desconfortável, constrangida até, porque a primeira coisa que você se lembraria é da carta que te mandei. E que você não respondeu. Você me perguntaria se ando trabalhando na área que me formei. Eu responderia que não, mas que estava feliz na minha atual profissão. Te falaria de minhas viagens e planos de morar fora, e você ficaria feliz porque sempre soube que isso é algo que sempre quis fazer. E lá no fundo, você talvez começasse a pensar que eu, realmente, tenha mudado e amadurecido. E voce ficaria realizada. Me perguntaria, então, se eu estaria com alguém. Com a minha negativa, diria que qualquer pessoa com quem eu estivesse seria feliz. E você diria que eu era especial, mas nunca havia me dito antes porque não podia. Eu iria só olhar para você, sem palavras. Finalmente, num súbito de coragem, te pediria, se fosse possível, que nos encontrássemos outro dia para tomar um café e conversar mais. Diria que sempre quis saber mais sobre você, mas nunca tinha tido a oportunidade. Você, claro, hesitaria, e eu iria perceber. Talvez seu namorado (quem sabe, agora, marido) não fosse gostar da idéia. Mas, você aceitaria. Não com tanta convicção, mas ainda assim disposta a ir. E eu ficaria na expectativa quase torturante de que, talvez, por alguns momentos, você tenha sentido alguma coisa a mais por mim; que, talvez, pensasse em mim à noite (como eu costumava fazer), e que fantasiasse comigo (afinal, tínhamos tanta coisa em comum). Trocariámos telefones. Então, eu mencionaria a carta. Diria que queria conversar sobre ela. Nesse momento, eu poderia ficar até um pouco amargo. Ressentido, talvez. Você iria começar a tentar se justificar, mas sem sucesso. Para amenizar, diria que ficou emocionada de verdade quando a recebeu. Eu complementaria dizendo que sua colega havia me dito, realmente, que você chorou. E de novo, eu só te olharia. Você tentaria fugir do meu olhar dizendo que poderíamos encontrar no próximo sábado. Eu concordaria. Você iria se despedir com um abraço de verdade agora. Eu iria retrebuir. E esperaria ansioso o próximo final de semana.


Mas as coisas têm a tendência de nunca acontecerem como você planeja. Se te encontrasse por aí, provavelmente trocariámos no máximo cumprimentos de longe. Eu te perguntaria se ainda trabalhava no mesmo local, e ficaria paralizado e disfuncional demais para perguntar qualquer outra coisa. É por isso que tenho essa ambivalência em te rever. Talvez você não goste tanto da minha aparência hoje. Logo agora, eu tão fora de forma. Talvez você não aprove o que eu esteja fazendo com a minha vida. Você enxergava tanto potencial em mim. E talvez eu descobrisse que você me considerava, realmente, apenas um garoto. Garoto com cabeça de homem, mas ainda assim, um garoto. E seria vergonhoso demais. A primeira pessoa a quem me declaro...não, não.

E você iria embora. Sem carta. Sem telefone. Sem encontro. Sem futuro algum....Apenas aquela vontade de ter feito tudo diferente. E a dúvida se, algum dia, você terá coragem suficiente de fazer diferente.

André Marçal

1 comment:

Anonymous said...

Acho que o problema de reencontros é reencontrarmos a nos mesmos e percebemos que nada mudou realmente....

Talves o problema seja a imaginação que nos alimenta de fantasia, nos deixando saciados e sem vontande de realidade.