Sunday, September 21, 2008

Minha Loucura

"A razão de um único homem contra a razão de todos os outros já não é mais razão e sim loucura"

Era uma tarde típica da capital paulista, no calor insuportável de uma biblioteca pública sem ar condicionado (GOD!), eu estudava um texto de Otto Maria Carpeaux (quem?) sobre William Blake e acabei esbarrando com essa frase maravilhosa! Não pude deixar de esboçar um sorriso automático de profunda felicidade por uma concepção que na verdade já é tão exaustivamente explorada. Mas eu precisava daquelas palavras, da repetição das minhas certezas e dos meus princípios de garoto "out of place" e ficar meia hora refletindo, até me esqueci do meu costumeiro café das 15:40. Fiquei pensando no quanto eu poderia já ter aproveitado da minha "insanidade", dos meus devaneios e das minhas particularidades (grotescas e absurdas) como indivíduo! Mas o que eu mais fiz até agora foi ficar sofrendo por sobre elas, fui me deixar dominar por uma culpa de não ser um "bom cristão", por não conseguir ser minimamente "normal" pra ter uma vida adequada em sociedade. Apesar de ter passado em todos os exames psicotécnicos burocráticos da vida como, tocar um instrumento musical mediocremente; entrar numa faculdade pública; ter pelo menos três amigos por ano; conseguir razoavelmente lidar com um apartamento numa cidade como São Paulo (não sem ajuda), apesar dessas coisas básicas do dia a dia eu simplesmente sou completamente desvairado para a maioria das outras necessidades básicas de um cidadão do mundo moderno. E digo em todos os sentidos!

E olha que eu já tentei! Já tentei encontrar um emprego que se adequasse minimamente à minha situação socio-intelectual esperada, e já tentei permanecer num deles pelo menos o suficiente pra receber um salário decente. Mas a verdade é que eu sou uma mula pra qualquer atividade que peça o mínimo de praticidade e racionalidade instantânea, não sei mais a tabuada (estudantes de Letras!), nem conheço como deveria o mundo das finanças e dos impostos! Atendo o telefone e , apesar de o assunto do meu interlocutor ser extremamente sério não posso deixar de pensar em qualquer outra coisa menos no que ele está falando. Justo eu que sempre me achei tão apto para tudo isso! Mas a verdade é que sempre estive de lado! Sozinho com meus livros e minhas fantasias, e pior, através delas acreditei estar vivendo. Mas crescer é bem diferente! Crescer requer o toque! Requer ter na pele e na memória a verdade concreta das situações, e quando eu me deparo com elas, no susto e na ansiedade de quem desconhece o caminho e não tem um guia orientador, faço tudo atrapalhado, do meu jeito maluco! A minha convivência com esse novo mundo a ser explorado acaba se tornando muito única, diferente do que é para os outros, com meus próprios vícios e neuroses. Meu passado, minhas próprias experiências me tornaram o que eu sou, mesmo que estranho, diferente, inadequado, mas é a minha razão, a minha loucura! Vou começar a retirar dela o que pode me fortalecer, me destacar no mundo, sem medo de parecer ridículo.

Isso me lembra a teoria da Sylvia Plath de que "todos nós vamos morrer". Parece até um daqueles ditados populares que você ouve dos avós ou da vizinha e que, apesar de simples, parecem armazenar séculos de sabedoria real! Sempre esqueço disso, mas quando eu me lembro, percebo que há uma catarse profunda nessas palavras: "Dying is an art!". De súbito, mas só de súbito, ser "ridículo" é uma questão de vida!

Paulo E. Vasconcellos

5 comments:

Ana Paula Barbosa said...

Indentificação total!!

Le Magnifique said...

Antigamente, as pessoas sofriam de neurose. Hoje em dia, o maior sofrimento é a "normose". Todo mundo quer ser normal, mas ninguem sabe exatamente o que é isso, e muito menos ainda em como o ser.

Luara Quaresma said...

Você escreve muito bem :}

Andreza said...

Delicioso de ler. Suas palavras têm gosto de brigadeiro mole na panela.
ps: sempre tenho a sensação que um dia sentei num café com as pessoas que escrevem frases que vivo pensando, mas nunca consigo traduzir. Aí vem aquela luz: "ah! era isso mesmo! o danado me entendeu"
abraços!

Paulo Augusto Franco said...

ahhh, não estou sozinho nesse "vai e vem" de situações ridículas, ufa.