Tá! Faz muito tempo que eu não escrevo aqui... Acho que isso não tem tanta importância já que não tenho muitos leitores. Mas já que estou de férias, isolado numa cidade do interior de São Paulo dolorosamente desinteressante e o calor não me permite qualquer outra atividade - seja física ou intelectual - um pouco mais exigente, why not writing?
Bem, então vamos lá. Já que é minha nova estréia aqui vou começar falando de cinema. Nada mais cliché para quem escreve em blogues (nada pessoal, caros blogueiros de cinema, eu mesmo adoro isso). Assisti hoje no meu computador "Hannah and Her Sisters" do Woody Allen e não consigo expressar o meu choque! É absurdamente bom! Cada diálogo, cada personagem, cada cena. E a trilha sonora! Lindíssima! Woody Allen já é querido meu faz muito tempo. Aquela neurose gritante e sincera dele me fascina! Mas o que mais gosto nele é sua autoconsciência aguda e, às vezes me pego imaginando todo o processo pelo qual ele deve ter passado para chegar nesse ponto de autocrítica serena, a qual ele não tem nem mesmo vergonha de mostrar ao mundo (ou o orgulho próprio de maquia-la). Basta ler um de seus artigos ou entrevistas concedidas a grandes jornais como NYTimes para perceber o pouco caso que o nanico faz de si mesmo, e a visão dura (sem deixar de ser irônica) que ele tem de sua própria imagem. Ao ler, você encontrar palavras como "ser visualmente insignificante", "perturbado", "feio", "superficial", "João-ninguém", "inseguro"; todas elas saídas de sua própria boca. Você ainda poderá encontrar frases em que ele admite ter ficado inseguro ao trabalhar com alguma das lindas atrizes que viraram suas musas, como Diane Keaton, Scarlet Jonhanson e assim vai; ou poderá ainda vê-lo confessar que muitas de suas cenas não foram planejadas, e na verdade ocorreram por acaso ou sorte.
Eu particularmente acho que o Woody (amigo de longa data) é, na maioria das vezes, muito duro consigo mesmo, isso para não dizer "defensivo". Na minha opinião ele tem uma fisionomia única, além de extremamente simpática e verdadeiramente impactante. Quem viu o Woody Allen uma vez, seja em foto ou ao vivo, não esquece sua pequena e desengonçada figura nunca mais. O fato de ele ser assim, pequeno, fora dos padrões de beleza semi-nazistas do mundo contemporâneo, só facilita o apreço do público por sua imagem. Claro que a isso se soma seu talento absurdo para o cinema! Basta para ver um filme dele em que ele mesmo atua (ou faça um papel importante) para entender o que estou dizendo! Em "Hannah e Suas Irmãs", ele atua no papel mais interessante e indentificável da estória, é o personagem que tira mais gargalhados dentre todos, e sem precisar de muito esforço. Não que os outros atores sejam ruins, muito pelo contrário, mas quando ELE aparece a experiência é única e inigualável. É o cara neurótico, loser, cheio de dúvidas existenciais, fraco, medíocre, azarado, feio, mas que vive com todo esse peso de realidade com aquela autoconsciência invejável que permite a autoironia. Por isso também ele é o ser humano mais inteligente e mais bem sucedido de todos na estória. É essa ironia que faz com que o público estabeleça a conexão afetiva com ele, pois todo mundo já se sentiu loser assim, mas poucos de nós losers sabemos como lidar com isso de maneira decente. Só sabemos ficar desesperados e nos afundarmos num oceâno patético de autopiedade. É essa lição que o Woody Allen nos ensina. Ele nos dá esperança ao mostrar que é bem mais sensato lidar com os problemas com humor e sarcasmo. Isso não deixa de ser um tipo de masoquismo, mas é um masoquismo que provoca riso e serenidade, não lágrimas e desespero.
P. E. V.
1 comment:
Welcome back, my dear friend!
Tava meio solitário só eu nesse blog aqui.
E bem que a gente podia explorar nessa loserdice como o Woody faz e ganhar alguns prêmios internacionais por ai.
Megalomaníaco, quem?
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